Retirando da lama alimenta para alma.

domingo, 8 de março de 2009

Ópio do povo?

A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração e a alma de condicões desalmadas. É o ópio do povo.(Karl Marx, "Uma Contribuição à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel" (1844)

Acreditar na Bíblia requer coragem. Não é para os fracos de coração. Sua visão do universo em nada é reconfortante. Podemos ser livres, podemos ser afluentes, mas em Pêssach comemos o pão da aflição e sentimos o gosto amargo das ervas da escravidão. Em Sucot, nós nos sentamos em barracos e aprendemos o que é não ter um lar. No Shabat, vivemos na prática nosso protesto contra uma sociedade movida pela produção e consumo incessantes. Todos os dias, falamos em nossas preces de Deus “que proporciona justiça aos oprimidos, e dá alimento aos famintos… liberta os agrilhoados… abre os olhos dos cegos e reergue os caídos… protege os peregrinos; ao órfão e à viúva Ele reanima…” (Salmos 146:7-9). Imitar Deus é estar alerta à pobreza, ao sofrimento e à solidão do próximo. O ópio elimina a sensibilidade à dor. A Bíblia nos faz senti-la.

É impossível se comover com os profetas e não ter consciência social. A mensagem que transmitem em nome de Deus é uma: O mundo não vai melhorar sozinho. E não se tornará um lugar mais humano se delegarmos a outros - políticos, articulistas, apologistas profissionais - a tarefa nossa de trazer a redenção. A Bíblia hebraica não começa com o apelo do homem a Deus, mas com Deus nos chamando, a cada um de nós, exatamente aqui onde estamos. “Porque, se de todo te calares agora”, diz Mordechai a Ester, “de outra parte se levantarão para os judeus socorro e livramento… quem sabe se não foi para este momento que chegaste ao reinado?” (Ester 4.14) Esta é a pergunta que Deus nos faz. A resposta é sim. Se não fizermos o que nos cabe, talves outros façam. Mas não teremos, então, compreendido por que estamos aqui e o que somos intimados a fazer. A Bíblia é o chamado de Deus à responsabilidade humana.

Autor : Rabino Jonathan Sacks

Fonte : Trechos do livro Para Curar um Mundo Fraturado - A ética da responsabilidade(Rabino Jonathan Sacks)

Um comentário:

Oscar disse...

Muito interessante o texto! Na verdade, a religião será o Ópio do Povo, enquanto os fiéis são mantidos em estado letárgico, ou seja, dizem amém a tudo àquilo que ouvem sem questionar! A religião deve ser um instrumento de cura, de libertação, e não um punhado de doutrinas sem sentido, fazendo dos crentes apenas robôs!

O rabino Sacks está certo quando coloca a religião em serviço dos aflitos, dos marginalizados esquecidos; contudo, nem sempre acontece dessa maneira! Temos visto que os mestres enriquecem nas costas largas dos pobres, daqueles menos favorecidos!

Pregar a pobreza como caminho a D'us, para mim, é tolher a inteligência humana! Por que a religião não prega o trabalho, o estudo, a prosperidade, como libertação da Classe Oprimida? Por que não ensinar a pescar, ao invés de dar o peixe pronto? Aliás, a Teologia da Libertação traz à tona muitos questionamentos dessa categoria!

Ser pobre para enriquecer a elite, é algo muito fácil!

Penso que a pobreza é uma chaga social! Tenho certeza: D'us não fez o ser humano para pedir esmolas! Capacitou-o com 20 bilhões de neurônios para exercer com brilhantismo suas funções! No entanto, somos nós os responsáveis pelas desordens sociais desde a antiguidade!

A Religião fala sobre justiça, união entre os homens, porém, esquece que para haver justiça e paz, precisa-se de comunismo, i.e., todos tenham as mesmas oportunidades e sejam iguais em deveres e direitos! D'us não faz acepção de pessoas, presumimos então, somos irmãos em todos os aspectos!

Nenhuma religião será capaz de mudar alguém, a menos que estejamos abertos às mudanças! Karl Marx também disse "não é a religião que faz o homem, mas o homem que faz a religião!"

Portanto, ela é Ópio do Povo quando põe mordaça, correntes e algemas nas mãos, pescoço, e nos pés das pessoas!

Oscar