Retirando da lama alimenta para alma.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A Dinâmica da Mensagem de Deus – Uma leitura do Livro de Hebreus

Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora, aos Pais pelos profetas; agora, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio do Filho...” (Hb 1.1,2 – Bíblia de Jerusalém), assim começa o livro de Hebreus, manifestando o movimento dessa mensagem, pois a proposta do autor é mostrar que essa dinâmica da palavra de Deus se mantém presente para sua atualidade e aqueles que leram ou ouvem essa mensagem devem levar em consideração a proposta desse evangelho de Cristo.

Primeiramente devemos entender Hebreus como um compêndio Cristológico e uma defesa de uma fé que está acima de todos os princípios religiosos ou ritualísticos que conhecemos na história do cristianismo. Se pudéssemos resumir o conteúdo do livro, podemos usar “Empenhemo-nos, portanto, por entrar nesse repouso, para que este mesmo exemplo de indocilidade não leve ninguém a cair”.

O processo religioso constrói em nós um sentimento de escravidão, pois o objetivo é mostrar cada vez mais a lei do pecado que habita em nós e com isso agir motivado pelo medo e não por amor, nesse sentido, não há como achar o descanso que Deus nos promete, justamente porque não nos empenhamos nesse repouso de Deus e isso só pode acontecer mediante a fé. Daí, vemos um grande caminho explanado pelo escritor em defender que esse repouso foi alcançado pelos antepassados mediante a fé.

A escravidão era uma característica freqüente e marcante na história do povo de Israel e espelhado nessa história, vemos o esforço de Cristo em libertar seu povo dessa escravidão, quando ele faz a opção pelos excluídos, por aqueles em que a religião deveria incluir, trazer para próximo de si. Nesse exercício, uma das conversas mais profundas e marcantes sobre essa luta entre a liberdade da fé a escravidão da religião, vemos o diálogo entre Jesus e Nicodemos, quando o Mestre afirma que para entender a mensagem do Reino de Deus é importante nascer de novo e para isso deve-se libertar das amarras da religião, coisa que Nicodemos não compreendia, pois estava preso ao dogma da religiosidade Judaica. Nesse argumento o autor de Hebreus chama de rudimento elementar (Hb 6.1) e para avançar na fé deve-se ir em direção a esse princípio.

O que significa nascer de novo para Cristo? Quando ele direciona essa mensagem, significa que para nascer nesse evangelho, deve-se fazer como a mulher Samaritana, que quando envolvida pelo princípio do dogma, perguntou onde Deus deveria ser adorado e Cristo a liberta desse princípio dizendo que não era em lugar nenhum, mas dentro do coração, conduzindo aquela mulher ao repouso, pois fora libertada da religião para um plano realmente maior.

Por isso que Cristo é posto como Sumo sacerdote superior a ordem de Arão e semelhante à Melquisedec, porque esse Cristo não está preso a nenhum dogma, ou instituição, pois Melquisede é um rei que representa a justiça e que se manifesta para todos e não para um grupo exclusivo, como era no caso de Arão.

Essa justiça é manifestada através da misericórdia como podemos ver em Hb 4.14.-16 e essa misericórdia faz com que possamos nos sentir dignos novamente, pois ela nos dá acesso ao Pai e através da adoração em Espírito e em Verdade, nos iguala sem levar em conta nossa posição religiosa ou social e com isso, os cegos, leprosos, mendigos, prostitutas, publicanos, fariseus, reis e plebeus, estão debaixo da mesma justiça divina e nesse sentido o sacerdócio de Cristo é semelhante ao de Melquisedec, pois a justiça se manifesta através da eqüidade, ou seja, igualdade com justiça. 

Ser dignos, não significa que estamos aptos para o Pai, mas que Deus nos dá a dignidade de sermos humanos novamente, pois vemos que o pecado tira essa possibilidade conforme Paulo escreve em Romanos 3, o pecado nos transforma em verdadeiros monstros e somente através da fé e do nascer de novo podemos encontrar a liberdade dessa condição. Logo a Nova Aliança não está em estabelecer uma nova lei, mas Cristo nos deu o verdadeiro sentido da Lei.

Enquanto a religião discute o que é periférico à Lei como o sábado, comer e não comer e o que é o pecado, Cristo diz que isso não é o essencial da Lei, mas que o principal é “amar a Deus sobre todas as coisas, todo o entendimento e toda a alma e amar ao próximo como a si mesmo, nesses dois mandamentos se resume toda a Lei” e assim, Cristo diz que ele veio cumprir a Lei e não revogá-la. Esse raciocínio faz com que estimulemos o cumprimento da lei de Cristo em nossos corações, conforme diz o Apóstolo Paulo.

Como podemos ler Hebreus de forma atual? Num mundo marcado pelo dogmatismo, político, social, econômico e religioso, ler esse magnífico livro é procurar manifestar a liberdade que há em Cristo e buscar nessa liberdade o repouso prometido por Deus. E através do Deus que falou, Ele fala ainda hoje e diz que sua mensagem é para todos e mostra o caminho que o homem deve seguir para poder alcançar a dignidade. Ao mesmo tempo em que aponta nossa responsabilidade em conduzir os pequeninos a essa liberdade. Podemos ver o autor aconselhando a velar uns pelos outros para o estímulo à prática das boas obras e isso só pode ser feito se estivermos em mente que devemos avançar no conhecimento de Deus e da fé conforme Hb 6.1 .

Esse avanço na fé, nos conduz ao que o Apóstolo Paulo nos afirma em Romanos 12, “Exorto-vos, portanto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como sacrifício vivo, santa e agradável a Deus: este é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, que é bom, agradável e perfeito.”, através disso podemos manifestar o verdadeiro desejo de Cristo que é sermos sal e luz do mundo e isso só pode ser feito através da ação, pois como diz o livro de Thiago que a fé sem obras é morta.

O autor de Hebreus conclama seus leitores a sair da inércia mascarada de religiosidade, para uma maior demonstração do discipulado estabelecido por Cristo, que é pautado neste nascer de novo em novidade de mente, ou seja, como afirma Paulo, deixando para trás o velho homem, isto é, toda a velha mentalidade, credos e estilo de vida para alcançar a imagem do novo homem, que se espelha em Cristo Jesus.

Pa
ra concluir, Hebreus fala de uma mensagem que transpassa o tempo, pois representa essa atemporalidade da mensagem de Cristo e do seu sacerdócio e que por essa atemporalidade, podemos nos achegar ao trono da graça e esse movimento foi manifestado através do rasgar do véu, mostrando que o templo, que representa a prisão do tempo não é mais o limite, por Deus ter derramado uma graça que é ilimitada, livre e manifestada em todos e para todos, não exclusiva de grupo, raça, gênero ou nação, mas de um sacerdote que semelhante a Melquisedec, não possui raiz, nação e é justo, pois é ministro de todos baseando-se na justiça e misericórdia.

 

Autor: Thiago Azevedo

Fonte : http://descansodaalma.blogspot.com/

Um comentário:

helaine nascimento disse...

Uau....aleluia,vc é uma bencão,que belo texto este que encontrou...valeu!!