quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Maravilhosa graça - Sem impedimentos
Sem simplicidade não há cura e graça
O desespero do homem religioso, especialmente do cristão ou do judeu praticantes, é o mais intenso e forte desespero que o coração humano já experimentou. Isso porque esses dois credos religiosos são aqueles que propõem a salvação humana como obra de justiça própria, especialmente de natureza moral.
É verdade que qualquer cristão doutrinado que leia o que acabei de falar dirá imediatamente que isto não é verdade quanto ao Cristianismo e, especialmente, não é verdadeiro em relação ao Protestantismo, em razão de que o arcabouço doutrinário da Reforma postula a salvação pela fé na Graça de Jesus. Todavia, todos sabemos que a doutrina é essa, mas que na prática isto nunca foi verdade para a “igreja”. Sim, porque prega-se essa salvação pela fé apenas como argumento alentador na chegada do “novo-crente”. Porém, no dia seguinte ao da “Decisão de ser Crente”, o indivíduo já começa a ser doutrinado na salvação e na santificação moral e autônoma, realidades essas que cada pessoa tem que conquistar a fim de se manter no posto da salvação pela via de sua irrepreensibilidade moral.
Assim, inicia-se falando o Evangelho como sedução, e, uma vez feito o prosélito, imediatamente ele é transformado num cristão fariseu.
O que segue são barganhas e mais barganhas com Deus, acrescidas de um estado perene de inquietação, nervosismo e culpa — medo de cair... Ou, então, no caso de o indivíduo estar se sentindo “bom” o suficiente para a agradar a Deus pelas suas próprias obras e pela sua própria moral, surge um ser arrogante, nojento e insuportável para a normalidade do convívio humano.
Assim nascem os crentes, tanto os neuróticos pela culpa e pela barganha, quanto também o crente santarado, que é esse ser da “dita-dura”, e que trata com raiva e com inveja aqueles aos quais acusa de serem “pecadores”. Sim, porque nesse caso o espírito de juízo e acusação é proporcional à inveja que se tem da liberdade ou do “pecado” do outro.
Tenho muita pena de ambos os grupos, mas especialmente dos que ficam neuróticos pelo peso das acusações que vêm dos crentes fariseus. A leitura de Mateus 23 nos mostra que, para Jesus, esses tais eram seres profundamente danosos quando estabeleciam contato com outros seres humanos, sempre com a vontade obstinada de desconstruir a individualidade do outro, fazendo deste um clone do crente-boneco-fariseu. “Ai de vós...” — foi o que Jesus repetidamente disse a eles, aos fabricantes de “crentes em série”.
Minha angústia tem a ver com o estado mental adoecido que esses cristãos-fariseus multiplicam e aprofundam a cada novo “discípulo” que fazem. Toda hora atendo “discípulos” desses “cristãos-fariseus” e quase sempre ou os encontro surtados de culpa, medo, débito e pânico de maldição, semi-esquizofrenizados, visto que para se amoldarem à fôrma dentro da qual são postos, a fim de se plastificarem nos moldes “legitimados” pela “religião dos bonequinhos movidos à corda”, tais pessoas precisam matar a si mesmas, aceitando como novo “eu” a caricatura humana proposta pela “igreja”.
Não há alma humana sensível e sincera que aceite tais coisas e não adoeça seriamente. Ora, faz anos que digo isso, bem como faz muito tempo que atendo pessoas sofrendo dos males de alma produzidos pela religião. No entanto, nos últimos anos, a “porteira da alma” se abriu, e a boiada dos angustiados saiu numa corrida atropelada, buscando, aos pinotes de angústia, um pasto de liberdade.
Os vícios mentais incutidos pela religião, todavia, são os mais difíceis de serem removidos e tratados. Isso porque quando você ensina às pessoas acerca da Graça de Deus, a questão que invariavelmente chega, é a mesma: “Mas como pode ser tão simples? Não há mais nada a fazer a não ser confiar que já está pago e viver apenas nesta fé?” — é o que me perguntam.
A pedra de tropeço dos crentes é o Evangelho de Jesus. Sim, são os crentes os que mais dificuldade têm de crer que é apenas crer.
De fato, a maioria sofre da Síndrome de Naamã, o Sírio. Sendo general importante e sofrendo de lepra, foi-lhe recomendado a ir até a presença de Eliseu, o profeta de Samaria. Ao chegar lá, o profeta nem mesmo saiu de casa a fim de atender o general, mas apenas mandou que ele fosse até as águas do Jordão e se lavasse 7 vezes. Naamã não quis ir. Achou simples de-mais. Esperava que Eliseu viesse, lhe prestasse honras, dedicasse a ele um rito, movesse as mãos sobre as feridas dele, e, assim, feitos “os trabalhos”, Naamã fosse declarado curado. De fato, tão contrariado ficou o general, que já estava indo embora quando um de seus servos lhe disse: “Se o profeta tivesse recomendado algo difícil e complicado tu não o farias? Ora, por que não fazes o que ele manda apenas por que é simples?”
O que vejo prevalecer entre os cristãos é que mentalidade do “difícil”, a consciência pagã de Naamã, e os mecanismos de cura pagã, sempre carregados de “correntes e campanhas”, todas baseadas em barganhas com a divindade, sendo que tal pratica é desavergonhadamente chamada de “sacrifício”. Para esses nunca haverá descanso, nem paz e nem a alegria que vem da segurança que se arrima na fé simples.
Enquanto os crentes obedecerem à espiritualidade de Naamã, o Evangelho não produzirá nenhum bem em suas almas!
Toda hora me vêm pessoas que me dizem que não entendem como quando passaram a apenas aceitar a simplicidade do Evangelho de Jesus, e crer que está tudo feito e pago, e que a vida com Deus é simples, e que o andar com Jesus é sereno — pois é fruto da confiança no que Ele já fez por todos nós —, tudo começou inexplicavelmente a mudar para o bem em seus corações. Mas alguns estão tão viciados na barganha com Deus e nos muitos e intermináveis sacrifícios de presença a todos os cultos, células, campanhas, atividades, e muita mão-de-obra dedicada aos líderes da “igreja”, que não conseguem nem mesmo crer que o bem que lhes está atingindo é verdadeiro; pois, para tais pessoas, “não é possível que seja só isto”.
Todavia, é simples mesmo; e bem-aventurados são aqueles que não tropeçam na Pedra de Tropeço e nem na Rocha de Escândalo, que é Jesus, e nem na total simplicidade de Seu Caminho, que é o único Caminho de Paz para a vida.
Quem não crê, que faça seu próprio caminho pelos infindáveis labirintos da religião...
Eu, todavia, me agrado de todo o coração no que Jesus já fez por mim, perdoando todos os meus pecados, me justificando perante anjos, demônios e homens, dando-me a chance de andar com tranqüilidade e paz entre os homens, com o coração pacificado na confiança no amor de Deus, de cujas mãos ninguém e nem coisa alguma pode me arrebatar.
“Quem crê tem...”— disse Jesus. Sim, quem crê tem tudo. Quem não crê, todavia, pode ter tudo — igreja, moral, credo, dogma, sacrifícios, barganhas, etc...—, porém, não terá nem paz e nem descanso, visto que paz e descanso apenas habitam a fé simples, que não pergunta: “Quem subirá aos céus? (isto é: para trazer Jesus à Terra pela encarnação); e nem tampouco diz: Quem descerá ao inferno? (isto é: para dar uma ajudinha a Jesus na ressurreição dos mortos).”
Mas como disse, é essa simplicidade do Evangelho que acaba sendo a Pedra de Tropeço dos crentes. E, assim, deixando a Rocha da Salvação, se entregam às infindáveis barganhas patrocinadas pelos Líderes Fariseus, os quais não contentes em se fazerem filhos do inferno (conforme Jesus disse), ainda desejam corromper a alma de muitos, criando seres atormentados pelas chamas das culpas e acusações do inferno, negando a eles a chance de viverem em liberdade no amor de Deus.
Portanto, saibam todos: sem fé simples e pura, posta em Jesus, confiante no Evangelho da Graça, não há nem paz, nem alegria, nem espontaneidade diante de Deus, e, sobretudo, não há saúde de alma para viver a vida como Vida, e não como tormento sem fim.
Ora, quando é assim a religião se torna a ante-sala do inferno!
Nele, em Quem tudo é simples,
Esmagados pela graça
Li “Os Miseráveis” e me assombrei com a genialidade de Victor Hugo. O personagem central da narrativa é Jean Valjean, um egresso das galés. Impressionei-me como Victor Hugo construiu a história desse homem bom que lutou contra circunstâncias difíceis e gente perversa.
Livre há quatro dias, Jean Valjean não encontrava quem o acolhesse devido ao seu passado. Sua fama o prejudicava. Cansado, com frio e faminto, precisava descansar. Sabendo que o prenúncio de chuva o mataria, Valjean procurou um albergue.
Quando bateu na porta da casa do bispo, Jean Valjean não escondeu sua vida pregressa. Mesmo assim, D. Bienvenu o hospedou, convidou para dividir a ceia e ainda lhe forneceu bons lençóis para a noite de sono. O ex-presidiário, entretanto, ainda padecia os efeitos de uma vida marcada pelo estigma do crime. Valjean ainda estava assustado com o mundo; era como um animal encurralado que precisava se defender.
Valjean então resolveu fugir da casa do bispo pela madrugada, roubando os talheres de prata. Contudo, não conseguiu ir muito longe. Logo os guardas o pegaram, reconheceram as insígnias do bispo na prataria e o conduziram até a casa que lhe acolhera para ser reconhecido antes de ser devolvido ao cárcere.
Surpreendentemente, D. Bienvenu não só o perdoou como o liberou. Tratou-o com deferência e lhe fez uma pergunta desconcertante: “Estimo tornar a vê-lo. Mas eu não lhe dei também os castiçais? São de prata como os talheres e poderão render-lhe bem duzentos francos. Por que não os levou também”?
Diante do gesto nobre de não levar em conta o roubo e ainda oferecer castiçais, Jean Valjean “arregalou os olhos e contemplou o venerando Bispo com tal expressão que nenhuma língua humana poderia descrever”.
O perdão e o amor gratuito de D. Bienvenu impactou Valjean de tal maneira que sua vida mudou para sempre. O bispo o livrara da acusação da lei, mas o tornava, daí em diante, escravo da bondade. A gentileza, ou a graça, esmagou Jean Valjean. Ele nunca mais pôde ser igual. Ao liberá-lo, o bispo o fez servo de um gesto de grandeza.
Paulo afirmou em Romanos que Deus conduz as pessoas ao arrependimento por sua bondade. “Ou será que você despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento?” (Romanos 2.4).
Portanto, Victor Hugo acertou quando fez de um pastor de almas a encarnação da graça de Deus. Só o amor tem o poder de transformar a vida de qualquer pessoa. Ninguém muda com ameaças; os arrazoamentos doutrinários são impotentes para convencer do que é certo. Jesus ensinou que seus discípulos seriam conhecidos pelo amor e não por uma teologia correta. “Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” (João 13.35).
Mesmo quando busca arrependimento, Deus não deprecia seus filhos; quando quer humilhar, prefere exaltar; quando deseja constranger, deixa de lado o rigor da lei e opta pelo elogio. Ao invés de ralhar, Deus simplesmente recebe o pecador com festa e aposta no seu futuro. Foi assim que Jesus descreveu o amor do Pai pelo Pródigo. O filho voltava para casa ainda sujo, sem sequer mostrar obras dignas de arrependimento, mas o pai apressado o abraçou, colocou anel no dedo, calçou os pés e o agasalhou com uma capa. O rapaz havia ensaiado um pequeno parágrafo pedindo para ser recebido como “um dos empregados” da casa, mas o velho o interrompeu e deu ordens para que preparassem a festa do bezerro cevado. A partir daquele dia, o filho se tornou escravo da bondade. A generosidade com que foi recebido, mesmo depois de ter se comportado com rebeldia causou um impacto tão grande que o rapaz nunca mais poderia voltar a ser o mesmo.
O mundo está cansado e parece ir de mal a pior. Fomes, guerras, pestes inundam o dia a dia e as pessoas precisam sentir-se amadas. O Evangelho traz a mais alvissareira notícia: "Deus não fecha portas, mas continua a receber os pecadores para restabelecer-lhes a dignidade, sem ameaçar com castigo. Deus gosta de acolher e honrar; dignificar e libertar; desobrigar e gerar compromisso.
Soli Deo Gloria.
Autor : ricardo Gondim
Fonte : http://www.ricardogondim.com.br/
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
A BÍBLIA É BABEL
A Bíblia não pode estar acima da vida. A maior autoridade na vida é a vivência mesma e não o texto sagrado da religião. O que contraria um pilar da tradição evangélica. Proponho inverter a afirmação tradicional. A vida é a maior autoridade sobre a Bíblia.
A hermenêutica evangélica da Bíblia hierarquiza o texto sagrado dividindo-o em patamares de estilo e valor: o texto normativo e o narrativo. Por ser uma escrita escorregadia, marcada pelas singularidades e obscuridades das experiências humanas, o texto narrativo precisa ser iluminado pelo texto normativo, aquele que discorre sobre Deus e doutrina a vida do crente. Sendo assim, grande parte dos evangelhos e do Livro dos Atos dos Apóstolos careceria ser interpretada com o auxílio preciso das Cartas Apostólicas. Também se sujeitariam a estes os poéticos e apocalípticos. Afinal de contas, o que fazer com o sorteio que define a vontade de Deus para a substituição no colégio apostólico, ou com a quantidade exorbitante de vinho providenciada pelo festeiro Nazareno transformando água em vinho? Os narrativos escandalizam, os normativos devolvem a ordem.
Esta compreensão hierarquizada da Bíblia já é uma “ginástica” conceitual para administrar a violência imposta à vida humana ao submetê-la a uma autoridade carente de dinamismo, à força fria do que está escrito. Os textos narrativos, maioria sugestiva da Bíblia, são repletos de ambigüidades, contradições, tensões, becos sem saída e imprecisões, porque são o retrato da vida de homens e mulheres que experimentaram Deus em épocas e culturas próprias. Da mesma forma que o discurso religioso quer sujeitar a vida ao texto bíblico, sua hermenêutica obriga-se a calar a polifonia irresistível dos textos narrativos com a mordaça dos chamados textos normativos.
Como se já não bastasse a hercúlea tarefa de arranjar a “Bíblia” de forma a maquiar suas imprecisões textuais e sua distância cultural em relação ao leitor, impõe-se ao crente arranjar sua vida de forma a encaixá-la na moldura das Escrituras, ou pelo menos dar esta impressão. Entenda o enquadramento da vida pelas Escrituras pelo que delas se compreende e se institui como fiel interpretação. Assunto com que já nos ocupamos em textos anteriores a este.
Acredito que precisamos ampliar o alcance da doutrina cristã da encarnação. O Deus que se fez gente deveria ser a mais importante chave de compreensão da Bíblia. Sendo assim, podemos entender o gesto de se esvaziar da condição acima da vida para assumir a condição humana de viver como a rendição de Deus à única realidade em que o que diz à humanidade pode fazer sentido, na vivência.
A Palavra de Deus se enche de sentido no Verbo Encarnado. O Verbo Vivo não mata a vida para se impor como doutrina. “O ladrão vem para roubar, matar e destruir”. Doutrina que não se vivencia assalta a vida. Mas a Palavra encarnada é a que vivencia radicalmente a existência humana e nela promove a vida intensamente. (Jo 10.10) O movimento divino de encarnação é um ato libertador. É negação de qualquer fala que se desconectou da vida para a sua afirmação redentora. Antes de dizer, desdizer.
Talvez por isso Jesus tenha usado com freqüência as locuções “Ouvistes o que foi dito aos antigos (…) eu, porém, vos digo que (…)” (Mt 5.22-44) Um Deus encarnado precisa dizer de novo. Reinterpretar o que sempre disse, pois fala de dentro da dinâmica existencial dos viventes. Fala com cheiro, com timbre, com cara, com batimentos cardíacos, com cultura e história, é a Raiz de Jessé, o Filho de Davi. Judeu nazareno oprimido pelos romanos. É provavelmente carpinteiro, certamente pobre. É filho de Maria, primo de João Batista. É “comilão e beberrão”. É rabi. É o filho do homem. É gente. Tem que desdizer e dizer de novo.
Acredito que foi por isso que Jesus suspendeu a prática do jejum em determinado momento, rito previsto e normatizado na Lei, negando qualquer sentido ao jejum na “presença do noivo” Como também colocou o Sábado a serviço da vida humana e a libertou de seu senhorio desastroso: o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. A vida é sagrada e não o mandamento do sábado. A Bíblia foi feita a partir da vida humana e não a vida humana a partir da Bíblia. A Bíblia sagra-se na vida.
Jesus re-significou a lei diante da mulher flagrada
A grande pressão sofrida por Jesus, sua maior tentação, foi a de inverter a relação. Violentar a vida impondo sobre ela as regras vindas do alto. Ao que respondeu com uma metáfora. “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto”. (Jo 12.24) Mesmo diante da morte previsível, Jesus se nega a jogar com outras regras que não as da vida. As únicas que poderiam produzir muito fruto. Regras acima da vida fariam a palavra de Jesus uma palavra solitária, sem sentido. A palavra encarnada na vida, inclusive na possibilidade previsível da morte, é solidária, é comunhão, são muitos frutos, tem muito sentido. O mundo é reconciliado com Deus apenas na palavra que frutifica no solo da existência humana.
É por isso que o pregador que vocifera promessas de milagre precisa deixar o púlpito e freqüentar os quartos de hospitais onde esperam pelo último suspiro centenas de enfermos. Gente que nunca experimentará a tal “fé” que produz milagres. Pela mesma razão lamento a dor, mas celebro a oportunidade de ter a companhia de pastores que experimentaram o fim do casamento. Eles sim têm o que dizer sobre a interpretação de textos bíblicos a respeito do divórcio e novo casamento. Festejo a globalização e o acesso em tempo real aos fatos do mundo, pois enquanto reclamamos de Deus um jeitinho para os nossos mínimos problemas somos também constrangidos pelos campos de refugiados em Darfur.
Não tenho dúvida de que essa necessidade de alçar o texto bíblico acima do mundo vivido é uma manobra de perpetuação de poder, ou seja, da religião instituída. Apenas a instituição teme a leveza da vida humana, sua imprevisibilidade a ameaça, seu descontrole a esvazia, sua circunstancialidade a relativiza. Por isso o texto precisa emoldurar a vida humana e confirmar a relevância da religião organizada. Não consigo parar de repetir que a Bíblia que se posiciona acima da vida é sempre a imposição de uma interpretação dela e nunca ela mesma.
A Bíblia em si mesma é a sabotagem divina à sistematização dos amantes do poder. A Bíblia é Babel. A confusão de línguas e histórias impedindo a divinização dos edifícios. Babel é a vida liberta por Deus das amarras hegemônicas dos poderosos. A Bíblia é Deus confundindo os esforços cartesianos de aprisionamento da verdade. A Bíblia é Deus libertando a vida das razões absolutizantes. A Bíblia é Deus babelizando os poderosos e espalhando a verdade por tantos viventes quantos haja. A Bíblia é tão narrativa quanto à vida. E tão desorganizada, imprevisível, imprecisa, surpreendente e contraditória quanto a vida de qualquer um de nós.
E é justamente porque a Bíblia se parece muito com a vida humana que tem muito e sempre o que dizer à humanidade. Sendo um livro essencialmente narrativo é Deus falando enquanto vivemos.
Gadamer fala da compreensão como um jogo. Um jogo dialógico e dinâmico. Como em um jogo, só se compreende bem algo, suas regras e funcionamento, a medida que é vivenciado. Aprendemos um jogo não quando lemos suas regras, mas quando o jogamos. Aí sua dinâmica é apreendida. Ninguém aprende a jogar a partir de uma manual de regras, mas a partir do jogo mesmo. Porque um jogo é muito mais que as regras de seu funcionamento. É intuição. Discernimento. Interpretação. Improviso. Imaginação. Só então as regras do jogo fazem algum sentido.
A Palavra de Deus também. Enquanto vivemos, a Bíblia pode ser compreendida na dinâmica do que experimentamos. O que diz só faz sentido a partir do que vivenciamos. O que acreditamos dizer a Bíblia como Palavra de Deus é apenas o que faz sentido na vida que experimentamos aqui e agora. O que cai no solo da existência humana e frutifica. O que promove e afirma a vida humana. “A letra mata, mas o Espírito vivifica”.
Para a vida humana, com tantas vozes e imprevisível, uma Bíblia tão falante e tão surpreendente.
Sobre Deus
Alguém disse que gosta das coisas que escrevo, mas não gosta do que penso sobre Deus. Não se aflijam. Nossos pensamentos sobre Deus não fazem a menor diferença. Nós nos afligimos com o que os outros pensam sobre nós. Pois que lhes digo que Deus não dá a mínima. Ele é como uma fonte de água cristalina. Através dos séculos os homens tem sujado essa fonte com seus malcheirosos excrementos intelectuais. Disseram que ele tem uma câmara de torturas chamada inferno onde coloca aqueles que lhe desobedecem, por toda a eternidade, e ri de felicidade contemplando o sofrimento sem remédio dos infelizes.
Disseram que ele tem prazer em ver o sofrimento dos homens, tanto assim que os homens, com medo, fazem as mais absurdas promessas de sofrimento e autoflagelação para obter o seu favor. Disseram que ele se compraz em ouvir repetições sem fim de rezas, como se ele tivesse memória fraca e a reza precisasse ser repetida constantemente para que ele não se esqueça. Em nome de Deus os que se julgavam possuidores das idéias certas fizeram morrer nas fogueiras milhares de pessoas.
Mas a fonte de água cristalina ignora as indignidades que os homens lhe fizeram. Continua a jorrar água cristalina, indiferente àquilo que os homens pensam dela. Você conhece a estória do galo que cantava para fazer nascer o sol? Pois havia um galo que julgava que o sol nascia porque ele cantava. Toda madrugada batia as asas e proclamava para todas as aves do galinheiro: “Vou cantar para fazer o sol nascer”. Ato contínuo subia no poleiro, cantava e ficava esperando. Aí o sol nascia. E ele então, orgulhos, disse: “Eu não disse?”. Aconteceu, entretanto, que num belo dia o galo dormiu demais, perdeu a hora. E quando ele acordou com as risadas das aves, o sol estava brilhando no céu. Foi então que ele aprendeu que o sol nascia de qualquer forma, quer ele cantasse, que não cantasse. A partir desse dia ele começou a dormir em paz, livre da terrível responsabilidade de fazer o sol nascer.
Pois é assim com Deus. Pelo menos é assim que Jesus o descreve. Deus faz o sol nascer sobre maus e bons, e a sua chuva descer sobre justos e injustos. Assim não fiquem aflitos com minhas idéias. Se eu canto não é para fazer nascer o sol. É porque sei que o sol vai nascer independentemente do meu canto. E nem se preocupem com suas idéias . Nossas idéias sobre Deus não fazem a mínima diferença para Ele. Fazem, sim, diferença para nós. Pessoas que tem idéias terríveis sobre Deus não conseguem dormir direito, são mais suscetíveis de ter infartos e são intolerantes. Pessoas que têm idéias mansas sobre Deus dormem melhor, o coração bate tranqüilo e são tolerantes.
Fui ver o mar. Gosto do mar quando a praia está vazia da perturbação humana, Nas tardes, de manhã cedo. A areia lisa, as ondas que quebram sem parar, a espuma, o horizonte sem fim. Que grande mistério é o mar! Que cenários fantásticos estão no seu fundo, longe dos olhos! Para sempre incognoscível! Pense no mar como uma metáfora de Deus. Se tiver dificuldades leia a Cecília Meirales, Mar Absoluto. Faz tempo que, para pensar sobre Deus, eu não leio teólogos; leio os poetas. Pense em Deus como um oceano de vida e bondade que nos cerca. Romain Rolland descrevia seu sentimento religioso como um “sentimento religioso”. Mas o mar, cheio de vida, é incontrolável. Algumas pessoas têm a ilusão que é possível engarrafar Deus. Quem tem Deus engarrafado tem o poder. Como na estória de Aladim e a lâmpada mágica. Nesse Deus eu não acredito. Não tenho respeito por um Deus que se deixa engarrafar. Prefiro o mistério do mar… Algumas pessoas não gostam do que penso sobre Deus porque elas deixam de acreditar que suas garrafas religiosas contenham Deus…
Autor : Rubem Alves
A Dinâmica da Mensagem de Deus – Uma leitura do Livro de Hebreus
“Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora, aos Pais pelos profetas; agora, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio do Filho...” (Hb 1.1,2 – Bíblia de Jerusalém), assim começa o livro de Hebreus, manifestando o movimento dessa mensagem, pois a proposta do autor é mostrar que essa dinâmica da palavra de Deus se mantém presente para sua atualidade e aqueles que leram ou ouvem essa mensagem devem levar em consideração a proposta desse evangelho de Cristo.
Primeiramente devemos entender Hebreus como um compêndio Cristológico e uma defesa de uma fé que está acima de todos os princípios religiosos ou ritualísticos que conhecemos na história do cristianismo. Se pudéssemos resumir o conteúdo do livro, podemos usar “Empenhemo-nos, portanto, por entrar nesse repouso, para que este mesmo exemplo de indocilidade não leve ninguém a cair”.
O processo religioso constrói em nós um sentimento de escravidão, pois o objetivo é mostrar cada vez mais a lei do pecado que habita em nós e com isso agir motivado pelo medo e não por amor, nesse sentido, não há como achar o descanso que Deus nos promete, justamente porque não nos empenhamos nesse repouso de Deus e isso só pode acontecer mediante a fé. Daí, vemos um grande caminho explanado pelo escritor em defender que esse repouso foi alcançado pelos antepassados mediante a fé.
A escravidão era uma característica freqüente e marcante na história do povo de Israel e espelhado nessa história, vemos o esforço de Cristo em libertar seu povo dessa escravidão, quando ele faz a opção pelos excluídos, por aqueles em que a religião deveria incluir, trazer para próximo de si. Nesse exercício, uma das conversas mais profundas e marcantes sobre essa luta entre a liberdade da fé a escravidão da religião, vemos o diálogo entre Jesus e Nicodemos, quando o Mestre afirma que para entender a mensagem do Reino de Deus é importante nascer de novo e para isso deve-se libertar das amarras da religião, coisa que Nicodemos não compreendia, pois estava preso ao dogma da religiosidade Judaica. Nesse argumento o autor de Hebreus chama de rudimento elementar (Hb 6.1) e para avançar na fé deve-se ir em direção a esse princípio.
O que significa nascer de novo para Cristo? Quando ele direciona essa mensagem, significa que para nascer nesse evangelho, deve-se fazer como a mulher Samaritana, que quando envolvida pelo princípio do dogma, perguntou onde Deus deveria ser adorado e Cristo a liberta desse princípio dizendo que não era em lugar nenhum, mas dentro do coração, conduzindo aquela mulher ao repouso, pois fora libertada da religião para um plano realmente maior.
Por isso que Cristo é posto como Sumo sacerdote superior a ordem de Arão e semelhante à Melquisedec, porque esse Cristo não está preso a nenhum dogma, ou instituição, pois Melquisede é um rei que representa a justiça e que se manifesta para todos e não para um grupo exclusivo, como era no caso de Arão.
Essa justiça é manifestada através da misericórdia como podemos ver em Hb 4.14.-16 e essa misericórdia faz com que possamos nos sentir dignos novamente, pois ela nos dá acesso ao Pai e através da adoração em Espírito e em Verdade, nos iguala sem levar em conta nossa posição religiosa ou social e com isso, os cegos, leprosos, mendigos, prostitutas, publicanos, fariseus, reis e plebeus, estão debaixo da mesma justiça divina e nesse sentido o sacerdócio de Cristo é semelhante ao de Melquisedec, pois a justiça se manifesta através da eqüidade, ou seja, igualdade com justiça.
Ser dignos, não significa que estamos aptos para o Pai, mas que Deus nos dá a dignidade de sermos humanos novamente, pois vemos que o pecado tira essa possibilidade conforme Paulo escreve em Romanos 3, o pecado nos transforma em verdadeiros monstros e somente através da fé e do nascer de novo podemos encontrar a liberdade dessa condição. Logo a Nova Aliança não está em estabelecer uma nova lei, mas Cristo nos deu o verdadeiro sentido da Lei.
Enquanto a religião discute o que é periférico à Lei como o sábado, comer e não comer e o que é o pecado, Cristo diz que isso não é o essencial da Lei, mas que o principal é “amar a Deus sobre todas as coisas, todo o entendimento e toda a alma e amar ao próximo como a si mesmo, nesses dois mandamentos se resume toda a Lei” e assim, Cristo diz que ele veio cumprir a Lei e não revogá-la. Esse raciocínio faz com que estimulemos o cumprimento da lei de Cristo em nossos corações, conforme diz o Apóstolo Paulo.
Como podemos ler Hebreus de forma atual? Num mundo marcado pelo dogmatismo, político, social, econômico e religioso, ler esse magnífico livro é procurar manifestar a liberdade que há em Cristo e buscar nessa liberdade o repouso prometido por Deus. E através do Deus que falou, Ele fala ainda hoje e diz que sua mensagem é para todos e mostra o caminho que o homem deve seguir para poder alcançar a dignidade. Ao mesmo tempo em que aponta nossa responsabilidade em conduzir os pequeninos a essa liberdade. Podemos ver o autor aconselhando a velar uns pelos outros para o estímulo à prática das boas obras e isso só pode ser feito se estivermos em mente que devemos avançar no conhecimento de Deus e da fé conforme Hb 6.1 .
Esse avanço na fé, nos conduz ao que o Apóstolo Paulo nos afirma em Romanos 12, “Exorto-vos, portanto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como sacrifício vivo, santa e agradável a Deus: este é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, que é bom, agradável e perfeito.”, através disso podemos manifestar o verdadeiro desejo de Cristo que é sermos sal e luz do mundo e isso só pode ser feito através da ação, pois como diz o livro de Thiago que a fé sem obras é morta.
O autor de Hebreus conclama seus leitores a sair da inércia mascarada de religiosidade, para uma maior demonstração do discipulado estabelecido por Cristo, que é pautado neste nascer de novo em novidade de mente, ou seja, como afirma Paulo, deixando para trás o velho homem, isto é, toda a velha mentalidade, credos e estilo de vida para alcançar a imagem do novo homem, que se espelha
Pa
Autor: Thiago Azevedo
Angustia
Muitas vezes nos apressamos a julgar as pessoas por serem más, ou por seus fracassos, ou seus defeitos, sem nos importarmos muito com suas dores, suas experiências de vida que possam ter causado nelas essas deformações, ou defeitos, ou sua maneira de ser. Sua construção de mundo que quase sempre independe de sua vontade.
Muitas vezes nos angustiamos em exigir perfeição das pessoas ao nosso redor, sem entender que também não somos perfeitos.
Muitas vezes julgamos Deus, quando queremos nos colocar no seu lugar e exigir inconscientemente, talvez, que ele aja como agiríamos em Seu lugar. Será que temos o conhecimento ou a sabedoria o suficiente para querer bancar o juiz tanto na vida das pessoas como de Deus.
Quem somos nós? pequenas partículas em um universo tão imenso e majestoso, quando pensamos que somos grandes e importantes. Gosto da música da Paula Toller que diz: quem sou eu, quem é você, somos um todo feito do nada. Florbela Espanca afirma em um de seus poemas, serei eu uma miragem, um fogo fátuo? Quem sou eu? será que saberemos um dia realmente quem somos? Será que somos o que pensamos que somos? o que os outros pensam que somos? o que realmente somos em essência? Não conseguirei lhe responder, querido leitor, querida leitora.
A vida seria tão mais simples se não nos colocássemos no lugar de julgar, e sim acolher, tentar entender, ajudar, compreender o outro que talvez, silenciosamente esteja nos pedindo: ajude-me a melhorar como pessoa, ajude-me a me entender, ajude-me e ame-me mesmo na minha imperfeição. Ajude-me não tentando me entender, simplesmente me ame, em silêncio.
Que tal pensar nisso?
Fonte : http://www.deliriosdaalma.blogspot.com/
Voz do atrevimento
A palavra “atrevimento” (como tantas outras expressões, em qualquer idioma) tem dupla conotação: uma positiva e outra negativa. Geralmente consideramos atrevida a pessoa desconhecida que nos dirige a palavra de forma abrupta, agressiva, senão brutal. Ou a, que sem mais e nem menos, ocupa o lugar que era nosso numa fila qualquer. Ou a que dá uma cantada numa mulher bonita que, visivelmente, “não é para o seu bico” e que não lhe deu, dá ou dará a mínima confiança.
Há, é claro, muitas e muitas outras acepções negativas do termo que nem é preciso mencionar, pois todos as conhecem, de sobejo.. Mas o atrevido, também, é o indivíduo que realiza o que ninguém conseguiu ainda realizar e que tinha toda a aparência de irrealizável.
É o que desafia as circunstâncias e faz coisas admiráveis. É o que encara a vida com coragem e ousa ir contra a corrente, impondo, com argumentos, idéias e convicções, mas com consciência e certeza do que faz, e se dá bem. Para o escritor Henry Miller, “imaginação é a voz do atrevimento”. Esse é o atrevimento que me fascina e me mobiliza. Ou seja, o de imaginar alguma coisa que à primeira vista pareça irrealizável, ousar e tentar concretizar o que foi imaginado, e mesmo que não tiver sucesso, gozar da deliciosa sensação de ao menos haver tentado.
A realidade, nua e crua, é fria, é feia, é insuportável. A vida – sempre convém reiterar, já que muitos parecem se esquecer disso – não tem reprises. E é muito bom que não tenha mesmo. Seu maior encanto é justamente este, o da novidade, mesmo que às vezes o “novo” nos traga surpresas desagradáveis, não raro trágicas até. O consolo, porém, é que no momento seguinte pode consertar tudo e nos proporcionar alguma alegria que sequer desconfiávamos que fosse possível. Por isso, atrever-se é preciso. Sempre!
A propósito de hipotéticos (e impossíveis) recomeços, a escritora Júlia Lopes de Almeida faz a seguinte constatação, no “Livro das donas e donzelas” (pouco conhecido, mas que deveria ser lido, sobretudo pelas mulheres): “O que torna a vida encantadora é o imprevisto, e a prova é que ninguém desejaria recomeçá-la da mesma forma porque já a viveu, nem creio mesmo que, se tal milagre se pudesse cumprir, houvesse alguém, por mais venturosa que lhe houvesse corrido a curta vida, que tivesse coragem de a recomeçar”.
Honestamente, eu não a teria. Muitos até afirmam, ousadamente (ou seria impulsiva e temerariamente?), que gostariam dessa reprise. Mas são palavras soltas ao vento, sem nenhuma reflexão ou fundamentação, ao sabor do momento. Quando refletem, essas pessoas concluem que o que viveram não foi sequer tão bom assim e muito menos o ideal.
Optam por desejar – reitero, se fosse possível recomeçar a vida – não só por um início diferente, mas também por um meio e fim diferentes, bastante diversos daqueles pelos quais já passaram. Júlia prossegue, em suas considerações: “Corra alguém os olhos, pense, siga o curso da sua existência, e ficará convencido de que só alguns dias lhe mereceram o desejo de serem revividos. Dias? Nada mais que momentos, de inolvidável doçura”.
Valeria a pena, pois, passar, novamente, pelos mesmíssimos dramas, dores, incertezas e aflições pelos quais já passamos, apenas para reviver escassos, pouquíssimos, raros e fugazes momentos de felicidade? Creio que nem mesmo o mais masoquista dos masoquistas gostaria de reviver tudo isso.
Ademais, é possível que no segundo seguinte esteja o tosão de ouro, o Santo Graal, o cálice sagrado da felicidade, que tanto procuramos e que raros encontram algum dia. É verdade que pode estar, também, a morte. Mas isso não há como evitar. Será sempre, sempre um dos tantos riscos que teremos que correr.
Ouçamos, pois, a voz do atrevimento, que algumas vezes não passa de quase inaudível sussurro, mas que em outras é um grito, um brado, um berro a nos desafiar. Não nos acovardemos nos refugiando na comodidade da omissão. Sejamos ousados, posto com a necessária prudência, e criemos as oportunidades que precisamos, caso elas não surjam espontaneamente, como cavalos selados, à espera, apenas, de serem montados.
Sejamos atrevidos, sim, face às circunstâncias, favoráveis ou negativas, não importa. No primeiro caso, para elevarmos ao máximo grau as satisfações que venhamos a conquistar. No segundo, para pelo menos tentar reverter o que pareça (e talvez de fato seja) irreversível. Ousemos sonhar, cada vez mais, cada vez mais alto, cada vez mais intensamente. Ousemos encarar o que outros já encararam, e fracassaram. Ousemos, acima de tudo, dar asas velozes e fortes à imaginação, essa voz alentadora do atrevimento (do saudável e construtivo, convém sempre destacar).